Entre o gentil e o profano: mulheres, corpo e discurso jurídico é uma análise de arquivo jurídico sobre um corpo que enreda o sujeito, que habita o lugar da moralidade corrompida lida a partir do rompimento do hímen. Ainda, é uma reflexão sobre o lugar ocupado por certa sacralidade em que o corpo, os gestos e seus invólucros são personificados nas figuras da virgem Maria e da Maria Madalena, aquela que deveria receber sob a superf ície de seu corpo a pedra jogada por quem nunca pecou. É também um arquivo que revolve a densidade histórica da Pandora mitológica, mulher que trouxe todos os males aos homens da Terra, ressignificada no arquivo jurídico quando da inserção do crime de contágio venéreo. É neste arquivo em que encontraremos o lugar da sexualidade incitada, dos pecados da carne, dos gestos obscenos. Enfim, é um arquivo sobre um corpo constituído como “profano” justamente por ser discursivizado a partir de um lugar “sagrado”. Um arquivo sobre as mulheres e sobre aquelas mulheres: significadas a partir também de uma sexualidade transgressora à regra moral, ética e social – historicamente construída. Um arquivo sobre os corpos dessas mulheres vistas e ditas como histéricas, pecadoras e, sob um viés discursivo, mulheres que sofreram um processo de hiperbolização dos sentidos mais baixos, lá ao sul do corpo, lá onde a vagina de Courbet escandaliza. Um corpo gentil por seduzir o olhar do outro, seja por gestos, voz, decotes, saltos ou por ser um lugar condutor a outro espaço que, de tão perfeito e meticuloso, é quase um lugar utópico, como nos ensina Foucault. Um arquivo sobre um corpo utópico.
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